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quarta-feira, 29 de junho de 2011

I-Mês XVI Dia

mais que pensado e, enfim, publicado

Aquela noite choveu muito. Fechei todas as janelas e cortinas do meu quarto, não queria ver ninguém. Não queria ver aquela chuva.
 Por mais que eu quisesse chorar, eu não conseguia. Talvez pelo fato de saber que não tinha por que chorar. Nos realmente não éramos nada. Não éramos amigos, não éramos namorados. Não éramos nada.  Ele estava certo. Poderia ficar com quem quisesse, mesmo que fosse a pessoa que eu mais detestava. Keity.
Mas na verdade. Eu ficava pensando: ele poderia, ao menos, me respeitar como gente. Já era duro para eu viver daquele jeito. Ele poderia pensar o quanto eu sofria com toda aquela situação. O quanto eu o odiava.
Às vezes queria deixar tudo. Tia, casa, empresa, dinheiro e subir. Conhecer novas pessoas. Conhecer novos lugares. Sair da cidade.
Se eu tivesse, ao menos, coragem para voltar à casa que eu morava, eu poderia morar lá enquanto tudo se ajeitasse. Mas eu nunca consegui. Por mais que a falta das lembranças doía. Telas próximas ainda eram mais doloridas.
Via-me totalmente num labirinto sem saída. Tentei viver por uma única coisa que eu nem sei direito o que era.  Talvez nem existisse. Estou mais perto de onde comecei. Mas perto do nada. Perto de lugar algum. Perseguindo coisas que não consigo enxergar.
Por que eu tenho que seguir em frente se ficou para trás tudo o que eu tinha?
Queria ficar de baixo dessa cama, até que alguém faça me mover.
Tentei esquecer o que aconteceu. Mas ai, as coisas ficariam ainda mais incompletas para mim. Se a tristeza tivesse um lugar para ficar, seriam meus olhos. Estou tão cansada disso tudo.
Tentei seguir em frente. Tentei ver o quando mais baixo poderia ir. E sempre conseguia chegar mais perto do fundo.  Tentei fazer as coisas valerem à pena. Tento mudar pensamentos.
Queria que alguém acreditasse que estou tentando, por que parece que tudo que eu toco, é como se quebrasse. Nada da certo. Mas ai, eu tento superar mais uma vez. E quando estou conseguindo, começa tudo de novo. E de novo, e de novo. E eu sei que isso não vai acabar, até que eu me levante do fundo, para o meu próprio eu. Mas como?
mais que pensado e, enfim, publicado
 Nunca pensei que seria assim. Será que era esse futuro planejado pelos meus pais? Nunca imaginei que estaria parada onde estou. Até quando isso vai durar? Pensei que seria mais fácil com o tempo. Mas estava errada. Totalmente. E alguém para dizer meu erro, tinha. Mas para me ajudar a não cometê-lo novamente, não.
Eu tenho dado muitas voltas, me escondendo de fantasmas vivos. Queria que a chuva levasse tudo num temporal.
Mas ela conseguiu tirar tudo de mim.”
Aquela noite eu adormeci debaixo da cama mesmo. Não sabia que horas eram ou se alguem procurou por mim.
Não fui trabalhar naquele dia e não estava nem ai se Bastian ia quebrar a porta do meu quato e me arrancar de baixo do meu refugio só para eu fazer a vontade dele.
Não tomei café da manhã. Por mais que eu soubesse que Sr. Alter teria deixado em cima da minha cama.
Não almocei. Só fiquei parada. Na mesma posição de quando eu entrei.
As vezes eu ouvia Sr. Alter me chamando ou falando alguma coisa comigo. Mas não conseguia entender. Eu não queria entender.
Mas ai, de tarde.
-Lin. –disse uma voz reconhecida agachada para que eu ouvisse de onde eu estava. Eu não respondi. –Lin! –disse mais uma vez. Era Bastian. Não respondi.
Então ele descidiu entrar debaixo da cama também. Sentir sua respirarção no meu pescoço. Estavmos bem proximos. Não conseguia abrir os olhos direito para ve-lo. Não conseguia falar direito. E ele não merecia meu esforço.
-Lin, por favor, olha para mim. –ele posiciona minha cabeça para que, se eu abrisse os olhos pudesse o ver. –Lin... Olha... O que eu fiz...Foi... Errado. –quando ele disse isso, tentei abrir os olhos de vagar. –Olha para mim. –repetiu ele. -...Olha... Eu não devia ter falado daquele jeito com você ta bom?...  É... Eu sei que... não tem nada entre...A... A gente. Mas...Eu... Eu... Eu não sei... O que dizer. –voltei a fechar os olhos. –Escuta... Por favor... –ele respirou fundo. –Eu não vou fazer mais isso estabem? –ele ficou esperando que eu disse alguma coisa. –Lin? –voltei a abrir os olhos lemtamente. –Lin? –chamou ele novamente.
-Promete? –disse para ele com um pouco de dificuldade.
-Prometo.
Ficamos nos lhando por alguns segundos.
-Vamos sair debaixo dessa cama?
Balancei a cabela em afirmação.
Ele saiu primeiro e depois me ajudou. Nos sentamos na cama. Passei a mão no cabelo para ver se dava um jeito. Ele ficou em silencio me olhando e quando nossos olhares se cruzaram, ele desviou. Me encostei no encosto da cama.
-Quando eu era pequena... –disse. –Quando chovia muito, meu pai tentava me distrair do barulho dos trovões e da luz do relampago, me levando até a cozinha. E ai nos comiamos um pedaço de bolo de chocolaté. Ou se não ele me levava para o quarto dele e da mamãe, me deitava no meio dos dois e deixava eu dormir ali a noite toda. –essa foi a primeira vez que eu falava do meu pai com alguem depois de muitos anos.
Bastian olhava para o nada enquanto eu falava.
-Mas ai... –continuei. –Ele morreu... Ela morreu... E não tinha mais bolo... Nem nada mais. Ai toda vez que chove muito eu...
-Vai para debaixo da cama! –disse ele me completando. Eu olhei para ele e ele fez o mesmo.
-Isso. –quando ele ficou me olhando, voltei a tentar arrumar o cabelo. Ele passou a mão nos meu cabelo também. Ele tinha um olhar triste. Ficamos nos olhando novamente por alguns segundo. Ele para de passar a mão no meu cabelo.
-Eu preciso ir. –disse ele já se levantando.
Eu continuei ali. Por mais que ele não tivesse me pedido desculpa, o que eu não tinha direito, saber que ele iria me respeitar, já me fazia me sentir um pouco feliz.
(CONTINUA)

terça-feira, 28 de junho de 2011

I-Mês XV Dia

mais que pensado e enfim, publicado

Segunda-feira. Mais uma semana, mas fotos mais tudo. Eu estava cansada da minha vida. Pensei duas vezes antes de me levantar e olhar todo mundo de novo.
Nunca pensei em morrer, mas queria poder adormecer por um bom tempo. Até acordar e pensar que tudo na minha vida não passou de um pesadelo. A morte dos meus pais. Eu ter que viver com minha tia. Um falso namoro.
Mesmo os meus pesadelos eram melhores do que quando eu acordava. Pois pelo menos neles, havia meus pais. Eu podia senti-los. E quando eu acordava, não tinha, mas nada. Nem a lembrança deles.
Quanto mais o tempo passava, mas eu me esquecia deles. E isso era o que mais me doía. Não a morte. Não os pesadelos. Mas o esquecimento.
Com o tempo eu não teria mais nada, mesmo. Não ia conseguir recomeçar, assim como Sr. Alter me pedia. Tudo estava acontecendo muito rápido e não estava conseguindo digerir. Não dava tempo.
Eu queria apenas um momento de felicidade verdadeira. Mas como eu poderia ter. Não tinha amigos, nem pai, nem mãe. Não tinha família. Tudo que eu tinha eram uma tia rabugenta, um cara que me detestava e um vazio tão grande que não estava cabendo no meu peito.
Seguir a vida não parecia ser tão simples para mim. Não sabia mais o que fazer. Deixar as coisas acontecer era a única saída para não me afogar ainda mais.
-Vamos levante. –disse Sr. Alter com uma bandeja de café nas mãos.
-Por que isso agora?
-Bom Bastian esta lá embaixo te esperando. E não esta com uma de suas melhores caras. Ele não vai deixar você tomar café. Então subi pelas escadas de emergência para poder te trazer o café da manhã.
-Sr. Alter...
-Vamos. Come um pouco.
Sr. Alter era tão prestativo. Era realmente meu único amigo. Era quem eu realmente podia contar.
-Sr. Alter? Ele ta com a cara de muita raiva?
-Sim. Hoje, ele conseguiu me assustar quando abri a porta. –sorrimos.
-E ele disse: Cadê a irresponsável da Lin? Vou ter que ir lá em cima puxar ela pelos cabelos e fazê-la aprender a pontuali...
É nessa hora que ele entra furioso no meu quarto, joga a bandeja que estava na minha cama por cima das minhas pernas, no chão e diz:
-Escuta bem o que eu vou te dizer. Eu não costumo falar mais de uma vez a mesma coisa. Mas eu acho que você não entendeu direito. Vai ser a ultima vez: não... Brinque... Comigo.
Ele segurava meus punhos com bastante força e seus olhos estavam vermelhos. Estava tão nervosa que eu não conseguia dizer nada. Só olhava no fundo dos olhos dele.
-Acho melhor o senhor esperar lá fora. –disse o Sr. Alter.
Bastian não se moveu. Estava olhando para mim e sua respiração estava acelerada.
-Sr. Bastian... –continuou chamando Sr. Alter. -Sr. Bastian... Por favor.
Ele foi soltando meus braços de vagar. Mas com o olhar ainda fixo em mim. Depois concertou sua roupa e foi se dirigindo para a porta de costa mantendo sempre o olho em mim.
-20 minutos... E eu não estou brincando.
Ele saiu. Eu fiquei parada na cama. Não conseguia nem me mover.
-Acho melhor a senhoria se apresar.
Não sei como consegui. Mas em 20 minutos lá estava eu. Já no carro com o Bastian.
Seu rosto era mais assustador do que das outras vezes. Talvez, tinha realmente acertado quando disse que ele ficou bravo pelo final de semana que ele programou não saiu como nos planos dele. Ou ele pensava que tinha que deixar claro quem mandava. Por isso estava agindo daquela forma.
No dia não foi muito diferentes, e nem teve nada de muito especial. Eu e Bastian não trocamos nenhuma palavra naquele dia. Ao não ser de manhã. Quando ele queria praticamente me matar com os olhos.
Mas isso não foi nada, em comparação com o que ia acontecer à tarde.
19h00min atendi a porta.
-O... O... O que... O que você estava fazendo aqui? –perguntei.

-Hoje é segunda, você começa a academia hoje, lembra? –disse Bastian já entrando em casa, como se eu tivesse o convidado.
-Desculpa. Eu me... Esqueci.
-Novidade. Melhor se arrumar rápido.
-Ah! Tá... Rápido.
Subi as escadas correndo, por isso tropecei algumas vezes. Nem sabia se tinha roupa de academia. Mas minha tia, tinha feito o favor de comprar.
Quando eu fiquei pronta, Bastian e eu fomos caminhando até a academia. Não era tão longe de onde morávamos.
Quando eu entrei na recepção, já podia ouvir o som alto e vozes de muitas pessoas conversando principalmente homens. Mas quando eu entrei mesmo, a primeira pessoa que eu vi, não foi uma das mais agradáveis.
-Keity?
-Florzinha.
-O que... O que você esta fazendo aqui? –não sabia o que dizer. Não queria nem ter visto ela.
-Compras. Não esta vendo que isso é uma academia? Estou fazendo o mesmo que todos aqui. Ao não ser... Você, né? Deixa-me adivinhar... Você esta fingindo que se interessa pelo seu corpo, só para, na realidade, ficar de olho no Bastian.
-Não...
-Por favor... Você é ridícula. Infantil.
-Eu... Eu não estou vigiando Bastian. –dei uma olhada em direção para onde ele estava.

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Sai de perto dela e fui falar com o professor para ver o que eu ia fazer. Ainda bem que ele pegou leve comigo. Não estava disposta nenhum pouquinho para malhar.




Só fiz uma hora de academia, mas parecia que estava lá há três horas. Estava todos fedendo e eu estava suada. Queria tomar um banho.
Fiquei esperando Bastian terminar, numa cadeira que estava lá perto. Estava quase pegando no sono.
-Vamos? –disse ele.

Apenas balancei a cabeça. Bastian olhou seu celular.
-Me espera lá fora, já estou indo. –disse ele.
Fui para fora sem exitar. Estava tão quente e eu precisava de ar puro. Os minutos foram passando e eu pude me refrescar um pouco. Mas percebia a demora do Bastian em sai. Pensei algumas vezes e decidi voltar para ver se havia acontecido alguma coisa.
Fui ver se ele estava nos armário talvez pegando alguma coisa. E estava. 
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Estava pegando a Keity. Quando eu vi os dois queria vomitar. E, depois de muito tempo que eu não sentia, senti vontade de chorar. Coloquei a mão na boca para não fazer nenhum barulho. Quando eles se beijavam, vi Keity abrir os olhos. Assim que vi que ela me viu, dei um passo para trás para ir embora. Um monte de pesinhos caiu ao chão. Assustei-me e olhei para eles.





-Lin? –disse Bastian surpreso a me ver. Virei de vez para ir embora e dei com a cara na porta. –Lin, se machucou? –como ele pode perguntar isso?
-Machucou florzinha? –disse Keity com ironia.
-Fica quieta. –disse Bastian.
Estava com a mão no nariz e ele colocou a mão dele por cima da minha.
-Não encosta em mim. –foi à primeira coisa que eu disse.
-O que você esta fazendo aqui, droga. Disse para esperar lá fora.
Keity fazia gestos provocativos por trás de Bastian. Não conseguia parar de olhar para ela.
-Você estava demorando. Achei que tinha acontecido alguma coisa.
-Você... Viu alguma coisa? –perguntou Keity colocando sua voz melosa.
-Ãh!... –dei as costas para ir embora.
-Olha só, eu falei... –disse Bastian tentado que eu me virasse para ele.
-Por que... Você fez isso?... Gosta dela?
Ele ficou por alguns segundos sem dizer nada. Apenas me olhava.
-Olha só... –começou ele. –Eu... Eu... –ele realmente estava preocupado com o que ia dizer? Pensei comigo. –Eu não te devo explicações, esta bem?
-Ah!... –isso foi realmente um choque para mim.
-Nós não somos namorados de verdade. Eu fico com quem eu quiser... Se... Se eu gosto dela ou não... Não... Interessa pra você.
Fiquei ali, ouvindo que ele estava dizendo, em silencio.
-Claro. –foi o que disse quando ele terminou.
-Não chora não ta flor? –disse Keity.
-Tá! –respondi a ela.
-Eu sei que você esta com vontade.Mas... –continuou ela provocando.
-Não. –engoli seco.
-Cala a boca Keity. –disse Bastian.
-Eu quero embora. –disse para Bastian com a voz tremula. Se eu tivesse que chorar nunca seria perto deles.
-Vamos.
Demos as costas para Keity. Pudia a sentir rindo de mim pelas costas. Como se tivesse cumprido sua missão.
Na rua eu andava mais rápido do que o Bastian. Queria chegar logo em casa. Não queria velo na minha frente. Às vezes pudi ouvi-lo correndo para chegar até mim. Ou apressando o passo para não ficar tão para trás.
Cheguei em casa. Não nos olhamos, não dizemos boa noite. Apenas entramos cada um para sua casa.
(CONTINUA)

segunda-feira, 27 de junho de 2011

I-Mês XIV Dia

mais que pensado e, enfim, publicado

Domingo. Dia de acordar tarde sem se preocupar com atrasos e horários. Nada poderia ser melhor. Nada poderia estragar. Ao não ser Bastian.
-Ah!... O que... O que... O que é isso?
-Isso é um cachorro.
-Eu sei. O que ele ta fazendo aqui, no meu quarto?
-Esse é o Tobey.
-Não sabia que você tinha um cachorro.
-Ele é do abrigo de cães que meu pai ajuda.
-Eu odeio cachorros.
-Que pena então você vai odiar ter que ir comigo no abrigo.
-Vou mesmo. –coloquei a cabeça debaixo da coberta.
-Mas você vai.
Bastian soltou o cachorro e ele veio pra cima de mim.
-Ta bem... Ta bem... –disse em berros. –Mas tira ele daqui.
-Estamos te esperando lá em baixo.
Quando ele fechou a porta me levantei e joguei o travesseiro longe. Não acredito que tinha que passar meu final de semana com cachorros. Não era que eu odiava, mas eu não gostava. Terminei de me arrumar e desci com a cara e a coragem.
Quando terminei de desce o cachorro latiu bem alto e levei um susto.
-O que esta acontecendo aqui? –perguntou minha tia atordoada.
-Desculpe Sra. Mesk. Já estamos saindo para levar o Tobey para um abrigo de cães.
-Então ande de pressa e tire ele daqui antes que ele urine no meu carpete.
Saímos e descemos as escadas.
-Por que não usamos o elevador?
-Tobey não gosta de elevadores.
Aquelas escadas me matavam. Ainda bem, que não estavamos correndo com o dia anterior. Mas parecia que as escadas nunca iam acabar. Quando chegamos ao carro o cachorro foi para o banco de trás.
-Você vai gostar muito de ajudar. –disse Bastian já dirigindo.
-Você vai todo final de semana?
-Não, só vou a cada dois meses.
-E vamos ficar o dia todo?
-Não. Assim que acabarmos nos vamos embora.
Olhei para a estrada. Saímos do centro e entremos numa rua de pedras e depois numa de chão.
-Eu nunca tive um cachorro. –disse.
-Você ia gostar de ter um.
-Acho que não.
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Bastian virou o carro para a esquerda e estacionou. Era uma casa grande e tinha um quintal enorme. Muitos animais e pássaros e outros bichinhos domésticos.
Chegou uma mulher bem alegre nos cumprimenta. Ventava bastante.
-Bom dia, Bastian. –disse a mulher.
-Bom dia senhora Cloe.
-E você deve ser a namorada do Bastian. –sorri sem graça. –Eu me chamo Cloe. Que bom que você veio. –sorri sem graça. –É sempre bom conhecer novos voluntários.
-Ah!... Sim.
-Espero que se divirtão. –ela pegou-nos pelo braço.
-Com certeza. -disse Bastian.
-Vamos. Tem muita coisa para fazer.
-Tem? –perguntei assustada. Não ouvi resposta de ninguém. Eles estavam bem empolgados e 
felizes. E eu estava com tanto sono e preguiça.
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Sra. Cloe nos levou até atrás da casa. Tinha um jipe estacionado com muitos cachorros, eles não paravam de latir. E cada latido para parecia que entrava direto no meu ouvido e fazia um caminho rápido para minha cabeça.
-Eles acabaram de chegar da rua. –disse Sra. Cloe.
- Dá rua? –perguntei.
-Sim, são cachorros abandonados, mas com boa saúde. Que pegamos, melhoramos sua aparência e doamos.
-Ah!...É...
-Estão ansiosos para tomarem um banho. –ela sorriu.
-Banho...
-Bom trabalho para vocês. Espero que se divirtão.
Ela coloca os baldes perto de nós e sai. Eu continuo parada no mesmo lugar vendo aquele monte de animal latindo.
-Vamos? –disse Bastian me dando um dos baldes. Peguei-o
-Vamos.
Bastian soltou todos os cachorros de vez. E quase todos vieram em cima de mim. Eles me lambiam, e latiam e cheiravam. Era um inferno. Cheguei a cai no chão. Bastian assoviou. E a maioria deles olharam e foram até ele. Eu consegui me levantar. Bastian passava a mão neles e sorria e conversava com eles.
Sacuti a poeira da minha roupa. Bastian olhou para mim.
-Vamos começar.
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Ele prendeu alguns nas correntes e me deu uma mangueira. Comecei a molhar alguns e depois tentava passar shampoo para cachorros. Mas eles se mexiam ou tiravam todo o shampoo se baténdo. As espumas iam parar tudo em mim e eu tinha que colocar tudo de novo. Bastian enxaguava os que, depois de muito esforço eu conseguia ensaboar.
Depois de uma hora lavando todos aqueles cachorros, terminamos.
-Acabou graças a Deus. –disse me sentando no chão.
-Terminamos o banho. Temos que secar.
-Ah!... Claro.
E lá fui eu secando cada um. A maioria tinha muito pelos. Primeiro tirávamos o excesso com a toalha seca e depois, nos, mas peludos terminávamos de secar com um secador.
-Agora acabou? –perguntei para Bastian.
-Não. Mas, acho que você vai gostar dessa parte.

-Vou?
-É hora de arrumá-los.
-Arrumá-los? Como assim?
-Bom, primeiro vamos escovar os dentes deles.
-Escovar?
-Isso. Depois tem que cortar o pelo e fazer as unhas deles e os pequenininhos, tem que colocar roupinhas.
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Tentei disfarçar minha cara de cansada e não argumentei, para que precisava daquilo tudo. Então coloquei a mão na massa. A pior parte era ter que escovar os dentes deles. Eles engoliam toda a pasta ou comiam a escova. Não me deixavam cortar as unhas deles ou cortar o pelo. Bastian ficou com essa parte. Ele ia conversando com os animais para conseguir poder cortar os pelos e as unhas. Era muito legal o ver fazendo aquilo.
Um dos cachorros estava estranho. Estava latindo como se fosse um lobo.
-Bastian, eu acho que esse cachorro esta doente. -o cachorro rodou, rodou e se deitou num canto aconchegante. –Ouvi dizer que quando o cachorro vai morrer, ele procura um lugar. -Bastian olhou para ele. –O que será que o cachorro tem?
-Não é um cachorro! –disse ele indo até onde o animal estava.
-Como assim? –disse eu, indo até ele também.
-É uma cadela. Ela esta prenha.
-Prenha?
-Grávida. E esta querendo dar a luz.
-Serio?
mais que pensado e, emfim, publicado
Observei um liquido saindo pela parte de trás da cachorra. Parecia que ela estava sentindo dor.
-Vou pegar um pano seco e limpo. Fique ai.
Bastian se retirou. De repente saiu um.
-Oh... –a cachorra fazia força. –Vamos garota, você consegue. –e assim veio outro. Bati palmas baixinho. Nunca tinha presenciado um nascimento, ainda mais de uma cachorra. Não era uma das cenas mais bonitas, mais ao mesmo tempo, era lindo ver aquilo. Observei que um não estava conseguindo sair. Ficou entalado pela metade. Somente a parte trazeira do filhotinho estava para fora. –Ai, não! –pensei em ajudar. Aquilo estava mesmo nojento. Mas descidi puxar devagarzinho o filhotinho para ele terminar de sair. Bastian chegou.
-O que esta fazendo? –perguntou ele colocando os filhotinhos que nasceu no pano limpo que trouxe.
-Esse não quer sair. –quando terminei de dizer essas palavras, consegui tira-lo. –Consegui. –sorri para o Bastian com o filhotinho nas mãos. Ele deu um sorriso tímido sem mostrar os dentes.
Ele me de um pano para eu poder, limpar o filhotinho.
-Parabéns seu primeiro parto. –disse ele.
-Ele é uma gracinha. –fiquei passando a mão nele por alguns segundos.
-Acho melhor colocá-lo perto da mãe. Deve estar com fome. –fiz exatamente o que Bastian falou.
-E agora? –disse me dirigindo até ele.
-Agora é hora do almoço. –disse a Sra. Cloe entrando onde estavamos.
-Veja Sra. Cloe, a cachorrinha deu cria. –ela olhou para onde eu estava apontando.
-O parto de um foi Lin que fez. –disse Bastian.
-Mas que bom trabalho, Lin. –disse ela.
-Obrigada.
-Isso merece uma comemoração. –continuou ela. -Especialmente hoje teremos para o almoço, estrogonofe com arroz e batata palha.
-Serio? –disse rindo.
-Vamos de pressa se não vai esfriar.
Chegamos até a cozinha. Tinha mais algumas pessoas que trabalhavam no abrigo. O cheiro estava maravilhoso. Sentei-me ao lado do Bastian e colocamos nossos pratos. Bastian foi o primeiro a experimentar.
-Hum... Isso esta melhor do que o da outra vez. –disse ele.
-Você sempre diz isso, Bastian. –disse Sra. Cloe.
-Pensei... Que só gostasse de comidas finas. –disse olhando para o Bastian.
-Não. Atrás desse homem de negócios, serio e prepotente, a um criançola que gosta das coisas simples da vida. –disse Sra. Cloe. Olhei para ele. Esta rindo sem graça com a cabeça baixa e mexendo no estrogonofe. –Você deve saber do que eu estou falando. –disse ela se dirigindo a mim. –Ele tem certa dificuldade de se sentir a vontade.
-É verdade. –disse sem pensar.
-Sabe. –continuou ela. –Quando Bastian me disse que vinha com a namorada, eu levei um tremendo susto.
-Ah!... É? Por quê?
-Não por nada. Eu só... Fiquei surpresa mesmo. Esperava que fosse uma ótima moça. Assim como você. Estou muito feliz por vocês. –sorrimos sem graça. –Mas me conta como vocês se conheceram. –disse ela olhando para mim.
O que eu ia responder? Que isso é tudo uma armação? Que nunca nem nos beijamos? Nunca parei para inventar como seria um encontro de verdade. Não sabia nem por onde começar.
-Ãh!... Ah!... É... Como nós nos conhecemos?
-Isso. –disse ela.
Olhava para Bastian para ele tentar me salvar. Ele não olhava para mim, mas pude ver que estava nervoso assim como eu.
-É... Bom... Como eu posso começar...
-Deixa que eu falo. –me interrompeu Bastian.
-Lógico. Ele conta melhor do que eu. –sorri meio sem graça. Ao mesmo tempo fiquei com medo com o que ele ia falar.
-Eu e meu pai tínhamos acabado de nos mudar para o prédio de onde ela e a tia dela mora. –começou ele.
-Então são vizinhos? –concluiu Sra. Cloe.
-Isso, de frente... Ela estava de... Roupa de dormir... E ela desceu até a rua para saber quem estava de mudança para o prédio. Ai eu pensei: que louca é essa. –sabia que ele ia falar coisas como essas. –Eu a odiava mortalmente. A achava metida, mimada. Falava de mais. –ele realmente estava me ofendendo na minha frente. –Mas ai...
-Posso concluir? –perguntou Sra. Cloe.
-Claro. –disse ele.
-Ai você viu que ela não era assim. Você realmente viu o quanto ela era diferente, e meiga e tinha olhos radiantes. E então se apaixonou. Acertei?
-É... É... Mais ou menos isso mesmo. –disse ele sem graça.
-É uma bela história, de vocês dois.
Não falamos, mas nada. Terminamos de comer em silêncio. Sra. Cloe e os outros na mesa continuaram a conversar.
Quando terminamos o almoço:
-Bom, hora de voltar ao trabalho. –disse ela toda sorridente.
Mais? Pensei comigo mesmo.
-Deixa que eu leve ela. –disse Bastian me puxando pelo braço. Não estava conseguindo disfarçar minha cara de cansaço.
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Chegamos até um lugar onde tinha muitas aves. De todos os tamanhos.
-Você da comida para elas. –disse ele.
-Pra todas?
-Por favor, Lin. É só passarinhos.
Elas eram grandes. Tinha até araras azuis.
-Não tem outra coisa para fazer não?
-Tem os estabulos para limpar.
-Não... Eu prefiro ficar... Com os passarinhos. –Bastian se virou para outra direção. –Bastian! –ele se virou para mim. -Obrigado.
-Pelo que?
-Por ter me ajudado na hora do almoço.
-Não fiz isso por você. Não queria que falasse alguma besteira.
Não disse mais nada. Ele foi embora. Entrei onde estavam os pássaros com um saco de alpiste nas mãos. Quando abria a saca, todas as aves vinheram voando pra cima de mim. Elas me picaram e puxaram meu cabelo. Eram muitas. Realmente estavam com fome. Tentei jogar a saca para outro canto. E lá forma elas. Acho que não podia fazer nada melhor do que aquilo. Fiquei esperando elas terminarem. Pude pensar em varias coisas. Mas não conseguia pensar em nada.
Depois consegui colocar algumas machucadas. Dentro das gaiolas especiais. Fiquei quase duas horas com elas.
-Terminou? –perguntou Bastian do lado de fora.
-Ah!... Acho que sim.
-Então vamos embora?
-Embora?
-É!?
-Mas assim... Embora... Pra casa?
-Isso.
Sai correndo para chegar do lado de fora.
-Então vamos.

Despedimo-nos da Sra. Cloe.
-Foi um prazer ter vocês dois aqui.
-O prazer foi nosso, Sra. Cloe. –disse Bastian.
-Espero que você possa vir de novo com ele. –disse ela olhando para mim. –você fez um ótimo trabalho hoje.
-Ah!... Pode deixar eu venho sim.
Entramos no carro. Acenei mais uma vez para a Sra. Cloe. Depois, coloquei o cinto e Bastian partiu com o carro. Não trocamos muitas palavras. Estava olhando pela janela do lado. Ficava contando as arvores e placas pelo meio do caminho. Às vezes fechava os olhos, mas logo em seguida abria de novo.
-Já esta chegando? –perguntava a cada minuto para Bastian.
-Não. –era apenas o que me respondia.
Voltava a fechar os olhos.
-Esta dormindo? –ouvia Bastian perguntar.
-Não! –respondi sem nem mesmo abrir os olhos.
Estava tão desgastada e cansada. Não via a hora de chegar em casa tomar um banho, tirar todo aquele cheiro de animal de mim e dormir até o outro dia.
-Chegamos. –disse ele terminando de me acordar.
Subimos o elevador em silencio. Estava com os olhos fechados. Parecia que nunca íamos terminar. Morávamos no 21° andar.
As portas do elevador se abriram.
-Tchau. –disse sem nem olhar para ele. Peguei minhas chaves e entrei.
A primeira pessoa que eu vi foi Sr. Alter.
-Boa tarde. Onde esta minha tia?
-Ela não está, só volta quarta. Esta na casa de praia com a Wanessa.
-É mesmo, estava me esquecendo. –comecei a subir as escadas. –Sr. Alter!
-Sim!?
-Poderia preparar um banho pra mim? Eu estou tão cansada.
-Lógico!
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Ele subiu as escadas comigo. Entramos no quarto e eu deitei no chão. Estava fedento para deitar na minha cama.
-Não! –disse ele sem pestanejar. –Quem disse uma coisa dessas para você?
-Ninguém!... Só... Queria saber. –fechei os olhos e abri logo em seguida. –Mas se eu fosse. Você me falaria?

-Ãh!... Claro.




Depois de uns 10 minutos ele voltou.




-Esta pronto senhorita Lin.
-Obrigada. Eu já vou. –disse com os olhos fechados.
Ouvi-o fechando a porta. Acabei pegando no sono. Só notei o quanto eu tinha dormido quando depois que olhei no relógio.
Fui acordada com alguém baténdo no meu quarto.
-Pode entrar. –pelos sapatos já tinha reconhecido. -Bastian? O que esta fazendo aqui?
-Ainda não tomou banho? Tem uma hora que chegamos. 
-Eu acabei pegando no sono. –sentei no chão. –O que esta fazendo aqui?
-É que vai ter o show de Shas.
-Quem é ele?

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-O ex-vocalista dos Guns!
-Ah!
-É a ultima apresentação dele na cidade. Quer dizer, é amanhã. Mas amanhã não vai dar para nós irmos.
-Nós?
-Isso! Te pego...
-Não, eu não quero ri. –interrompi-lo. –Eu nem conheço as musicas dele direito. Só algumas. E eu estou muito casada.
-Eu não estou te convidando. Só estou te comunicando. Te pego em... 40 minutos. Pode ser?
Não respondi nada. Apenas balancei a cabeça.
Ele saiu do quarto.
Não é possível que ele não estivesse cansado. Não era possível que ele não via o quanto eu trabalhei. E ele queria ir num show? Respirei fundo e tomai banho. Fiquei deitada um tempo na banheira. Acabei pegando no sono de novo. Acordei, pois tinha água entrando no meu nariz. Acordei assustada. E tossindo. Terminei de tomar banho no chuveiro e fui me arrumar.
Estava passando brilho quando Bastian entrou.
-Eu disse 40 minutos. Você estava atrasada oito.
Olhei para ele não acreditando que ele estava aborrecido por causa de 8 minutos. Eu deveria ter me acostumado com a pontualidade dele.
Continuei passando brilho. Ele pegou da minha mão e jogou na mesinha, me puxou para irmos logo.
Não disse nenhuma palavra até chegarmos.
-Droga, já começou. –reclamou ele.
-Vamos ficar em algum camarote, ou algum espaço VIP?
-Não. É no povão mesmo.
-O que? Mas... Tem muita gente.
-Lógico ele é Shas!
Ele foi me puxando para dentro daquelas pessoas. Estava me sentindo sufocada e ninguém dava espaço. Bastian queria ficar lá na frente. Tropeçava em algumas pessoas e pisava no pé de outros. Bastian parou.
-Vamos ficar por aqui mesmo. –disse ele.
Uma batida forte estava tocando. As pessoas ao meu lado estavam pulando e empurrando todo mundo.
-Tem certeza que aqui é melhor? –disse quase aos berros para ele, devido ao som extremamente alto.
Ele nem prestou aténção no que eu disse. Estava olhando fixo para o palco e seus braços estavam cruzados. Quem fica num show assim? Se fosse uma banda que eu gostasse, já estava gritando aos berros.
O som ficou mais leve e começou a tocar uma musica conhecida. Comecei a cantar junto.

- When I look in to your eyes I can see a love restrained…
Olhei para Bastian. Ele estava do mesmo jeito da ultima vez que o vi.
-Você não canta?
-Não!
-Por quê? Você não gosta dessa musica?
-Gosto.
-Sabe, as pessoas vão para os shows para cantar com os seus artistas. Se não ficasse em casa vendo apenas o DVD... É como se tivesse cantando só o fã... E o artista... É como se tivessem... Cantando... Juntos. –ele não disse nenhuma palavra. Nem ao menos olha para mim. –Esquece.
Resolvi não cantar também. Quando estava no refrão da segunda parte, olhei novamente para Bastian. Ele não estava cantando, mas pudi ler os lábios deles. E ele estava acompanhando sem som Shas cantando: wouldn't time be out to charm you woh...
Logo a musica acabou e começou novamente uma com o som bem pesado. As pessoas começaram a pular e gritar.
-Fique aqui. –disse Bastian se afastando de mim.
-Para onde você vai? –disse preocupada por ele me deixar ali sozinha. -Deixa eu ir com você?
-Eu já volto. Não sai daqui. –Não via mais ele na multidão.
O som da batéria parecia que esta no meu coração e os solos de guitarras parecia que estava tocando somente para mim. Não sei como não consegui fica surta. Depois os homens começaram a empurrar e aos poucos percebi que não estava no lugar que Bastian pediu para eu não sair. Comecei a respirar fundo e ficar agoniada. Precisava sair daquele lugar de qualquer jeito. Dei varias volta para saber para onde eu ia. Esbarrei em alguém. Pisei em alguém.
-Olha para onde anda garota. –disse uma menina toda de preto.
-Desculpa.
-Isso não faz meu dedão parar de doer.
-Desculpa...
-Na próxima vez, vê se não vem de salto.
-Ah!...
-Não queira esbarrar comigo de novo.
Ela fez um olhar de que poderia me batér. Mas ela foi para outro canto. Tinha perdido totalmente a noção do tempo.
Tentei encontrar com menos pessoas. Alguém me puxou pelo braço.
-Ãh!... Bastian... Graças a Deus eu te encontrei.
-Não, eu te encontrei. Eu não falei para você ficar lá?
-Não... É por que... Todo mundo estava pulando e empurrando... Acabei me perdendo.
-Vamos embora.
Ele pegou minha mão e foi me conduzindo até o estacionamento. Dormi no carro era inevitável.
Quando chegamos ao prédio fui em direção ao elevador.
-Vamos de escada.
-O que? Por quê?
-Não confio em elevadores à noite.
-Mas...
-Vamos.
Começamos a subir todas aquelas escadas. Cada andar que terminávamos de subir parecia que nos levava ainda mais para baixo. Não estava mais agüentando.
Pelo 10° andar me sentei na escada e abaixei a cabeça.
-Me de um minuto. -ele se senta ao meu lado. -Seus finais de semana são sempre assim?
-Na verdade não. Não faço quase a metade do que eu fiz hoje.
-Então por que fizemos?
-Queria provar para meu pai o quanto você é fraca, patricinha... Hum... Dependente... E...
-Fútil? ... –ele não diz nada, só olha para mim. –Inútil?
-... É!
-Por quê? ... Por que você queria provar isso para seu pai.
Ele se levanta e seu tom de voz se altera um pouco.
-Por que todo dia, ele fica falando, para eu cuidar de você, porque você é frágil, e delicada e isso e aquilo. E ele fica falando o quando você é bondosa e responsável. Mas ai eu digo: “Pai ela não consegue nunca chegar no horário”. E ele fica falando que você é uma menina que sempre quis como filha. Mas nesse fim de semana eu vi que você não é isso tudo que ele achava. -à medida que eu ouvia aquelas palavras, eu conseguia entender as coisas. Eu também fiquei de pé. –Você sabe o que é ouvir seu próprio pai com os olhos brilhando enquanto ele fala de outra pessoa?...
-Então, todo esse fim de semana foi uma armação?... Você planejou tudo isso!... A meu Deus... Você... Você... Você sabia que não tinha Bollines naquele supermercado. Você sabia que a padaria ficava do lado esquerdo, por isso que me mandou procurar do lado direito. Sabia que eu me perderia. O que você esteve fazendo enquanto eu ficava por uma hora dentro daquele supermercado? Estava fazendo compras ou rindo de mim com algum amigo. Eu dei banho em cachorro, e... E... E sequei... E dei comida para aquelas aves que me picaram toda... Aquele abrigo existe mesmo? Ou também fazia parte do plano? –ele só ficava me ouvindo. –Você sabia... Que eu ia chegar cansada... Mas me arrastou para aquele show onde eu só conhecia uma musica. E ainda me deixou sozinha... E... E brigou comigo... Por que eu me perdi. Você... Você... Você é desprezível, e manipulador, e nojento, e insensível... Eu estou com tanta raiva, eu odeio você mais ainda... Mas do que nunca. Eu... Eu... Eu estou muito furiosa... E muito zangada... E... E eu queria que você morresse... Se... Se eu não tivesse me divertido tanto.
Ele olhou para mim. Eu voltei a me sentar nas escadas.
-Se divertido?
-É... –sorri olhando para o nada, me lembrando de todo aquele final de semana. –É... Eu... Me diverti muito. Aprendi tanta coisa... Eu... Eu nunca mais vou comer caviar... E... Descobri que a padaria do Super Max... Fica do lado esquerdo... E... E descobri que Bollines é mesmo uma delicia... E também que... Eu gosto de cachorros... –olhei para ele e sorri, mas ele não fez o mesmo. –Vi como é interessante... Ver um cachorrinho... Nascer... E entendi, que... Não é bom ir de salto para shows... –ficamos em silencio por alguns segundos. Sem nos olhar. –Acho que não estou mais brava. Você deve estar. –o senti olhando para mim. Mas eu não o olhei. –Seu plano não deu tão certo, né? Queria que eu ficasse realmente com raiva... Mas... Você que esta. –olhei para ele. Ele ainda olhava para mim. Mas depois olhou para frente de novo. –Eu acho que vou de elevador daqui para cima. Eu não me importo.
 Levantei-me e entrei no elevador. Enquanto subia o restante doa andares eu ficava pensando em todo o final de semana. E comecei a rir sozinha. Era realmente ridícula toda aquela historia.
(CONTINUA)