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Acordei tão feliz! Era final de semana. Sem trabalho. Sem acordar cedo. Sem fotos. Sem brigas já pela manhã. Sem desculpas, gentilezas, ou etiquetas. Poderia ficar em casa a vontade. Quer dizer quase à vontade. Minha tia fazia questão que eu ficasse arrumadinha para casa caso alguém chegasse em casa de surpresa. Mais isso era o de menos. Ainda mais que no dia anterior Brian falou aquelas coisas bonitas para mim. Às vezes eu ficava rindo sozinha.
Mais o que eu ia fazre com todo aquele final de semana pela frente?
-Vá até o cinema.
-Mas Sr. Alter, eu vou sozinha?Não tem graça.
-Nem adianta pedir que eu não posso ir com você. Tenho muita coisa para fazer. Chame alguém para ir com você.
-Não conheço ninguém que não estragaria meu dia.
-Então...
-Por falar em estragar o dia, cadê minha tia?
-Ela saiu cedo hoje. Disse que iam finalizar alguns detalhes.
-De que?
-Você e suas perguntas que eu não posso responder.
-Bom se minha tia não esta em casa, o dia vai ser melhor ainda.
Sr. Alter não gostava que eu falasse coisas ruins da minha tia. Mas às vezes eu não podia evitar.
Desci para tomar café. Mais uma vez a mesa estava repleta de coisas que eu gostava e eu podia comer sem medo. Quando terminei peguei minhas chaves do quarto e sai.
-Para onde a senhorita vai. –perguntou Sr. Alter quando eu estava quase fechando a porta.
-Vou sair um pouco. Talvez eu vá ao cinema.
-Isso mesmo! –virei para ver de quem era aquela voz que sai detrás de mim.
-Tia Malvine?
-Tem tanto tempo que você não vai ao cinema. Dizem que esta passando uma comedia muito boa. Acho que vai gostar. Se não tivesse ainda Algumas coisinhas tara terminar de resolver eu iria com você.
-Ah! Não... –minha tia olhou estranha para mim. –Quer dizer, ah! Não eu não queria te atrapalhar. –nos rimos sem graça uma para outra.
-Bem, me deixa entrar. Bom filme para você, Lin!
-E bom... Bom... Bom dia para você tia!
Entrei no elevador.
-Segure para mim. –segurei a porta e depois que eu vi quem fez o pedido.
-Sr. Martin? –ele entrou.
-Bom dia Lin.
-Bom dia!
Ele estava serio e com terno. Suas mãos seguravam sua pasta a sua frente.
-Vai trabalhar no domingo?
-Sim!
-E seu filho também?
-Não.
Como ele se limitava em responder apenas o que eu perguntava, resolvi parar de puxar assunto. Chegamos até o piso.
-Depois se quiser falar com Bastian. Ele esta em casa.
-Ah!... Esta bem!
Sai do elevador e ele desceu para o estacionamento. Jamais falaria com Bastian. Fiquei parada por alguns segundos e dei uma risada sozinha.
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. Fui andar um pouco pelo centro. Vi algumas lojas. Tomei um sorvete no parque e depois um cachorro quente.
-Deixa sua tia ver você comendo isso.
Olhei para trás para ver quem era que falava comigo.
-Sr. Alter?
-Sua tia me deu um dia de folga.
-Aposto que você morreu insistindo que não precisava e que não tinha nada de externo para fazer em um dia de folga.
-Como você sabe?
-Você diz isso toda vez que minha tia te da folga.
-É...
puxando-o.
-Mas que bom que você esta aqui. Se você não tem nada para fazer. Eu arrumo para você. –sai
puxando-o.
-Para onde vamos Senhorita Lin. –parei.
-Primeiro. No seu dia de folga, não me chame de senhorita ou nenhum pronome de tratamento. Apenas de Lin. Combinado?
-Combinado! –ele sorriu.
-Agora eu vou te levar ao museu!
-Hum... Interessante!
Depois do museu, fomos para o circo, para o cinema e depois para o teatro.
-Tinha tempo que não me divertia assim.
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-Estou feliz que você esta aqui comigo. Você... É... Como um pai para mim.
-Não, não seu pai... Era um... Grande homem... Ele era muito mais do que qualquer homem possa ser ou mesmo imaginar ser.
-Sabe, eu não gosto, que as pessoas falam assim dele.
-Por quê?
-Toda vez que alguém fala dele, eu tento me lembrar. Mais por mais que eu tente, eu não consigo. Não me lembro de seu rosto, de suas expressões do seu cheiro. E todo mundo fala que ele era um grande homem e isso e aquilo... Ai fico... Tentando ser uma coisa de que ele se orgulhasse... Só que acabo decepcionado todo mundo.
-Não seja dura com você mesma. Tenho certeza que ele queria que você fosse exatamente o que você é hoje. E quer saber de alguma coisa? Ele ia se orgulhar. Assim como eu tenho muito orgulho de você.
Ele me abraçou.
-Aquele ali não é o filho do vizinho?
Olhei para trás e virei logo em seguida.
-Ãh... Acho melhor irmos embora.
-Mas você não queria o autografo dos artistas da peça?
-Ah!... Depois eu pego.
-Tudo bem. Então vamos.
Durante a caminhada de volta para casa Sr. Alter se expressou o quanto ele tinha gostado.
-A peça foi magnífica.
-Foi mesmo. É a terceira vez que eu vejo. Mas eu me emociono toda vez que eu vejo.
Chegamos em casa.
-Vocês estavam juntos? –perguntou minha tia assim que nos viu.
-Sim. Fomos ao cinema, no museu e até no teatro. Foi muito legal.
-A eu faço idéia... –minha tia estava com uma felicidade assustadora estampada. –Sr. Alter, poderia nos deixar a sós?
-Claro Sr. Malvine!
Minha tia esperou Sr. Alter sair. Ela se virou e sorriu para mim.
-Então tia... O que aconteceu?
-Hoje, teremos um jantar muito especial, com pessoas muito especiais no restaurante Gumer.
-Hoje?
-Sim. –ela foi por trás de mim e colocou as mãos em meus ombros. Começou a me empurrar para as escadas. –E eu quero que você fique linda.
-Mas...
-E... Para que não aconteça nenhum outro acidente... Comprei dois vestidos para você... Vamos, suba e se arrume como se quisesse impressionar alguém. Não queremos chegar atrasadas, não é mesmo?
-A... Ta!
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Fui para meu quarto tomar banho. Tentei não ficar empolgada como o ultimo jantar. Mas queria saber quem eras as pessoas “especiais” que minha tia falou. Vi os dois vestidos em cima da cama. Era um mais lindo que o outro. Fiquei na duvida em qual colocar. Um era preto e tinha um cintinho amarelo. O outro era um florido lilás com um cintinho branco. Pensei que como era um jantar num restaurante chique o vestido preto seria melhor. Por mais que gostasse do florido.
Fiquei pronta as 18h00min. Ia me dar mais uma olhada no espelho. Mas, lembrei do que aconteceu da ultima vez. Resolvi desce, sem me olhar.
-Ótima escolha no vestido Lin. Esta belíssima
-Obrigada tia!
-Bom melhor irmos, para não chegarmos atrasados. O motorista já esta nos esperando.
Estava muito ansiosa para conhecer os convidados especiais. No carro eu tentei perguntar algo para minha tia, mas ela disse que preferia fazer surpresa.
Chegamos. Lembro-me de ter almoçado com minha tia nesse restaurante algumas vezes, mas não com muita freqüência. Ele era muito chique e sofisticado. A cara dela. Mas também era bem caro. Um dos mais caros da cidade.
Entramos. Estava lotado. Tinha muitas pessoas finas, famílias, individuais, amigos. Era um dos melhores restaurantes.
Fomos até a recepção. Havia um homem grande e forte. Sua pele era escura e usava bigode.
-Boa noite. –disse o homem.
-Boa noite! –respondeu eu e minha tia respectivamente.
-Por favor reservas para Lindsay e Malvine Mesk.
O homem grande deu uma olhada no computador e digitou alguma coisa.
-Aqui esta. –disse ele. –Mesa três.
-Muito obrigada!
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-Boa noite senhores! –disse ela.
Dirigimo-nos até a nossa mesa. Quando dei por mim estavamos indo em direção a mesa onde o Sr. Martin e seu filho estavam sentados. Não queria nem pensar que eles eram os convidados especiais. Tentei pensar que fosse apenas uma coincidência e que minha tia ia apenas cumprimentá-los. Mas ai eu vi o numero três. Era nossa mesa. E, infelizmente, eram os convidados especiais. Minha tia começou a sorrir.
O Sr. Martin se levantou para puxar a cadeira para ela se sentar. Bastian fez o mesmo por mim. Mas sem dizer nada. Agradeci:
-Obrigada.
-Nos atrasamos? –perguntou minha tia.
-Não respondeu Sr. Martin.
Meu estomago embrulhava. Estava com vontade de vomitar. Minhas mãos suavam. Tinha certeza que minha tia estava aprontando alguma. Alguns dias atrás, ela era capaz de matar o Sr. Martin só com o olhar. E agora ela estava todo sorriso para ele.
-Acho que já podemos pedir. –disse minha tia.
-Certo. –ele levantou a mão para chamar o garçom. Apareceu uma mulher de blusa branca, calça e avental preto, com alguns cardápios na mão. –Eu e Bastian já pedimos. Só pedimos para trazer junto com o de vocês.
-Bom, eu vou querer Japonês, por favor! –disse minha tia.
Eu dei uma olhada no cardápio. Não tinha nada que me agradasse. Pensei: “o que seria mesmos pior?” Minha tia interrompeu meus pensamentos.
-Lin, hoje você pode pedir o que quiser.
-O que quiser?
-Sim.
-O que quiser, mesmo?
-Até se for bife com batata frita. Eu não me importo.
Realmente, alguma coisa muito estranha estava acontecendo.
-Bem... -olhei para a garçonete e dei o cardápio. –Poderia ser alguma coisa que não tenha Caramujos, ou coisas gosmentas, ou qualquer coisa crua ou que tenha muito mato... Acho... Que vou ficar com a sugestão da minha tia.
-Certo. –disse a garçonete anotando tudo.
Enquanto esperávamos minha tia e Sr. Martin ficaram conversando sobre coisas nada interessantes. Pelo menos não estava interessante para mim, nem para o Bastian ou mesmo para o pai dele. Estava dando atenção para minha tia, porque era um cavaleiro.
A comida chegou. Não tive nenhuma dificuldade em comer. Era uma das coisas que eu mais gostava de comer. Embora, tinha bastante tempo que não comia. Bastian quase não tocou no prato. Às vezes eu o via dando uma golada grande no seu vinho.
Mas uma vez, minha tinha interrompe meus pensamentos.
-Mas eles serão um casal perfeitos.
Olhei para minha tia tentando saber do que eles estavam falando.
-Não é mesmo Lin?
-O que tia?
-Não seja boba, Lin. Não esta prestando atenção.
-Estava distraída...
-Estamos falando do mais novo casal de modelos. –fiquei olhando para ela sem consegui entender. –Você e o Bastian.
-O que? –olhei direto para Bastian. Ele deu uma gola tão grande que todo o seu vinho da taça acabou.
-Quando Alex deu essa idéia. Achei maravilhoso.
-O que? –olhei para o Sr. Martin.
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-Sabe uma das coisas do tempo de meus avôs que nunca deveria mudar, é isso. Deixar os mais velhos, os pais, ou os responsáveis pelos filhos. Os mais velhos sempre sabem mais.
-Tia...
Sr. Martin e seu filho não falavam nada. E minha tia ao contrario, não parava de falar.
-E pode confessar Lin. Escolhi uma ótima pessoa para você. Bastian é bonito, inteligente, elegante, cavaleiro.
-Ãh?!... Tia, ele nunca nem falou comigo direito.
-Mas é no namoro que vocês vão se conhecer melhor. Poder conversar. Tenho certeza que você vai se surpreender com Bastian.
-Tia, não, eu não quero. Não gosto dele. E tenho certeza que ele também não gosta de mim... –olhei para ele na esperança que ele concordasse comigo e falasse que também não concordava com o que estava acontecendo. Mas ele ficou em silêncio. –Tia... Eu pensei que você odiasse Sr. Martin e seu filho.
-Por favor, Lin... Eu nunca os odiei... O que aconteceu... Acontece em negócios.
-Sr. Martin, por favor... –apelava como se ele não tivesse no meio daquele “circo”.
-Vai ser o melhor. Vai por mim.
-Melhor?... –meu tom de voz estava alterando.
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-Venha comigo. –disse Bastian com a mão estendida na minha frente.
-Vá Lin! –disse minha tia toda feliz.
Levantei-me sem pegar na mão dele jogando o guardanapo na mesa. Fomos até o balcão de bebidas. Ele ficou olhando para frente.
-Como você concorda com o que esta fazendo com você?
-É negócios, esta bem? Não é para você se apaixonar. Nos não vamos ser namorados de verdade. É tudo mentira.
-Como assim negócios? Eu não estou à venda.
-Nem eu... Mas você não entende.
-É o que eu estou tentando fazer...
-Pode ter certeza de uma coisa: eu nunca iria namorar alguém como você.
-... Eu digo o mesmo.
Voltei para mesa. Não acredito que ele falou aquilo comigo. Foi à primeira conversa mais longa que tivemos. Queria que nunca tivesse acontecido. Eu queria gritar. Não disse mais nada quando estava na mesa. Só pensava na minha cama, eu preste acordar de um pesadelo que estava acontecendo.
-Quer embora? –perguntou Sr. Martin.
Não levantei a cabeça, não olhei para ele, nem respondi em palavras. Apenas balancei a cabeça afirmando.
No carro, não troquei nenhuma palavra com minha tia. Eu não estava acreditando no que estava acontecendo. Quando minha tia estava cheia de mistérios, pensava que ela estava armando para o Sr. Contador e não para mim. Como ela pode. Eu sou a sobrinha dela. Nós somos do mesmo sangue.
Chegamos em casa. Fui direto subir as escadas para me trancar no quarto por um século.
-Lin... –parei de subir as escadas quando ela me chamou. –Quero que saiba. Que realmente é para o seu bem. –senti a voz dela calma. Virei-me.
-Se a senhora se importasse mesmo com o meu bem-estar, nunca deixaria eles fazerem isso comigo.
-Foi à única forma que eu encontrei de nos deixar ainda nos negócios. Alex disse que ficaria na presidência até você ter idade suficiente para tomar os negócios. Mas se ele armar de novo? Você pode perder tudo.
-Eu ou a senhora, pode perder tudo?
Ela não disse nada.
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Subi para o meu quarto. Deite na minha cama e fiquei olhando para o teto. Não sabia em que pensar, embora tivesse muitas coisas: “será que minha tia estava certa”?,
“talvez eles quisessem dar realmente um golpe”, “talvez esse fosse um modo que ela viu para ficar vigiando o que eles iriam fazer com a empresa do meu pai”. Fiquei olhando fixo para o nada durante um bom tempo. Queria não acordar mais. Minha vida estava se transformando num verdadeiro conto de horror. Pensava que essas coisas só aconteciam em livros e filmes. Mas este mais do que real.
(CONTINUA)
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