mais que pensado e, enfim, publicado |
Aquela noite choveu muito. Fechei todas as janelas e cortinas do meu quarto, não queria ver ninguém. Não queria ver aquela chuva.
Por mais que eu quisesse chorar, eu não conseguia. Talvez pelo fato de saber que não tinha por que chorar. Nos realmente não éramos nada. Não éramos amigos, não éramos namorados. Não éramos nada. Ele estava certo. Poderia ficar com quem quisesse, mesmo que fosse a pessoa que eu mais detestava. Keity.
Mas na verdade. Eu ficava pensando: ele poderia, ao menos, me respeitar como gente. Já era duro para eu viver daquele jeito. Ele poderia pensar o quanto eu sofria com toda aquela situação. O quanto eu o odiava.
Às vezes queria deixar tudo. Tia, casa, empresa, dinheiro e subir. Conhecer novas pessoas. Conhecer novos lugares. Sair da cidade.
Se eu tivesse, ao menos, coragem para voltar à casa que eu morava, eu poderia morar lá enquanto tudo se ajeitasse. Mas eu nunca consegui. Por mais que a falta das lembranças doía. Telas próximas ainda eram mais doloridas.
Via-me totalmente num labirinto sem saída. Tentei viver por uma única coisa que eu nem sei direito o que era. Talvez nem existisse. Estou mais perto de onde comecei. Mas perto do nada. Perto de lugar algum. Perseguindo coisas que não consigo enxergar.
Por que eu tenho que seguir em frente se ficou para trás tudo o que eu tinha?
Queria ficar de baixo dessa cama, até que alguém faça me mover.
Tentei esquecer o que aconteceu. Mas ai, as coisas ficariam ainda mais incompletas para mim. Se a tristeza tivesse um lugar para ficar, seriam meus olhos. Estou tão cansada disso tudo.
Tentei seguir em frente. Tentei ver o quando mais baixo poderia ir. E sempre conseguia chegar mais perto do fundo. Tentei fazer as coisas valerem à pena. Tento mudar pensamentos.
Queria que alguém acreditasse que estou tentando, por que parece que tudo que eu toco, é como se quebrasse. Nada da certo. Mas ai, eu tento superar mais uma vez. E quando estou conseguindo, começa tudo de novo. E de novo, e de novo. E eu sei que isso não vai acabar, até que eu me levante do fundo, para o meu próprio eu. Mas como?
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Eu tenho dado muitas voltas, me escondendo de fantasmas vivos. Queria que a chuva levasse tudo num temporal.
Mas ela conseguiu tirar tudo de mim.”
Aquela noite eu adormeci debaixo da cama mesmo. Não sabia que horas eram ou se alguem procurou por mim.
Não fui trabalhar naquele dia e não estava nem ai se Bastian ia quebrar a porta do meu quato e me arrancar de baixo do meu refugio só para eu fazer a vontade dele.
Não tomei café da manhã. Por mais que eu soubesse que Sr. Alter teria deixado em cima da minha cama.
Não almocei. Só fiquei parada. Na mesma posição de quando eu entrei.
As vezes eu ouvia Sr. Alter me chamando ou falando alguma coisa comigo. Mas não conseguia entender. Eu não queria entender.
Mas ai, de tarde.
-Lin. –disse uma voz reconhecida agachada para que eu ouvisse de onde eu estava. Eu não respondi. –Lin! –disse mais uma vez. Era Bastian. Não respondi.
Então ele descidiu entrar debaixo da cama também. Sentir sua respirarção no meu pescoço. Estavmos bem proximos. Não conseguia abrir os olhos direito para ve-lo. Não conseguia falar direito. E ele não merecia meu esforço.
-Lin, por favor, olha para mim. –ele posiciona minha cabeça para que, se eu abrisse os olhos pudesse o ver. –Lin... Olha... O que eu fiz...Foi... Errado. –quando ele disse isso, tentei abrir os olhos de vagar. –Olha para mim. –repetiu ele. -...Olha... Eu não devia ter falado daquele jeito com você ta bom?... É... Eu sei que... não tem nada entre...A... A gente. Mas...Eu... Eu... Eu não sei... O que dizer. –voltei a fechar os olhos. –Escuta... Por favor... –ele respirou fundo. –Eu não vou fazer mais isso estabem? –ele ficou esperando que eu disse alguma coisa. –Lin? –voltei a abrir os olhos lemtamente. –Lin? –chamou ele novamente.
-Promete? –disse para ele com um pouco de dificuldade.
-Prometo.
Ficamos nos lhando por alguns segundos.
-Vamos sair debaixo dessa cama?
Balancei a cabela em afirmação.
Ele saiu primeiro e depois me ajudou. Nos sentamos na cama. Passei a mão no cabelo para ver se dava um jeito. Ele ficou em silencio me olhando e quando nossos olhares se cruzaram, ele desviou. Me encostei no encosto da cama.
-Quando eu era pequena... –disse. –Quando chovia muito, meu pai tentava me distrair do barulho dos trovões e da luz do relampago, me levando até a cozinha. E ai nos comiamos um pedaço de bolo de chocolaté. Ou se não ele me levava para o quarto dele e da mamãe, me deitava no meio dos dois e deixava eu dormir ali a noite toda. –essa foi a primeira vez que eu falava do meu pai com alguem depois de muitos anos.
Bastian olhava para o nada enquanto eu falava.
-Mas ai... –continuei. –Ele morreu... Ela morreu... E não tinha mais bolo... Nem nada mais. Ai toda vez que chove muito eu...
-Vai para debaixo da cama! –disse ele me completando. Eu olhei para ele e ele fez o mesmo.
-Isso. –quando ele ficou me olhando, voltei a tentar arrumar o cabelo. Ele passou a mão nos meu cabelo também. Ele tinha um olhar triste. Ficamos nos olhando novamente por alguns segundo. Ele para de passar a mão no meu cabelo.
-Eu preciso ir. –disse ele já se levantando.
Eu continuei ali. Por mais que ele não tivesse me pedido desculpa, o que eu não tinha direito, saber que ele iria me respeitar, já me fazia me sentir um pouco feliz.
(CONTINUA)
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